Prêmio Mulheres na Ciência: Daniela Karine Ramos

16/11/2021 13:06

Desde a semana passada, a Agência de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina (Agecom/UFSC) tem publicado reportagens sobre as vencedoras do Prêmio Mulheres na Ciência 2021, promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq). A quarta matéria da série aborda a trajetória e o trabalho da professora do Centro de Ciências da Educação (CED) Daniela Karine Ramos, vencedora na área de Ciências Humanas, Categoria Plena, voltada a docentes que ingressaram na UFSC entre 31 de dezembro de 2000 e 31 de dezembro de 2013.

Daniela é professora do Departamento de Metodologia de Ensino e do Programa de Pós-Graduação em Educação e uma das coordenadoras do grupo de pesquisa Edumídia – Educação, Comunicação e Mídias, além de atuar como como professora colaboradora do Mestrado em Recursos Digitais em Educação do Instituto Politécnico de Santarém (Portugal). Há mais de dez anos, dedica-se a projetos de pesquisa e extensão relacionados ao uso de jogos eletrônicos na Educação, com estudos voltados especialmente à aprendizagem e ao desenvolvimento de funções cognitivas. Sua produção acadêmica e científica soma 85 artigos em revistas científicas, 13 livros publicados e organizados, 37 capítulos de livro e 49 trabalhos completos em anais de evento.

Ela também é divorciada e mãe de três crianças – Julia, Mateus e Eduarda, de 11, 9 e 6 anos, respectivamente. E foi justamente da percepção dos múltiplos papéis que assume, assim como muitas outras mulheres, que veio um dos estímulos para se inscrever na premiação. Para Daniela, essa era uma forma de valorizar a iniciativa e reconhecer a importância da mulher na ciência e os diferentes desafios enfrentados pelas pesquisadoras. “Tenho três crianças pequenas, fiquei na pandemia com eles sozinha, e [com ensino] remoto, computador e trabalho… Então muitas vezes é uma condição bem diferente da de homens que atuam na universidade. A gente tem esse desafio, muitas vezes, de uma responsabilidade maior como mãe. Normalmente, numa situação de divorcio é a mãe que acaba ficando mais responsável pelas crianças”, enfatiza.

Daniela com os filhos – Julia, Mateus e Eduarda – durante o período de seu pós-doutorado, em Portugal. Foto: arquivo pessoal

Trajetória acadêmica e profissional

Daniela iniciou sua trajetória profissional ainda no Ensino Médio, em atividades não relacionadas à vida acadêmica, como uma bolsa na Secretaria de Estado da Educação. Egressa de escola pública, também precisou trabalhar para pagar o cursinho pré-vestibular que a permitiu conquistar a desejada vaga no Curso de Psicologia da UFSC, no qual entrou em 1998.

Graduada em Pedagogia e Psicologia, Daniela aplica conhecimentos de suas duas áreas de formação em atividades de ensino, pesquisa e extensão. Foto: arquivo pessoal

Na época, recebeu uma bolsa de assistência social da Universidade – uma modalidade que não existe mais, voltada a alunos de baixa renda e que exigia a contrapartida em trabalho. “E aí trabalhei digitando nota de combustível na reitoria, na coordenação do Curso de Nutrição, e acabei indo depois trabalhar no NDI [Núcleo de Desenvolvimento Infantil]. E quando trabalhei no NDI, me apaixonei. A professora Eloísa [Helena Teixeira Fortkamp], que foi a pessoa com quem trabalhei no berçário, foi uma inspiração. Achei muito legal o trabalho que era desenvolvido com as crianças.” Foi então que decidiu prestar vestibular para Pedagogia na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ingressando no curso no segundo semestre de 1999. “Eu estudava Psicologia de manhã, trabalhava à tarde e fazia Pedagogia à noite. Me mantive toda a graduação trabalhando, morando em São José, pegava umas filas naquela ponte… Eu brinco que paguei todos os meus pecados dessa vida e de outras na minha formação”, conta. “Foi uma trajetória de muita determinação para conseguir o que eu queria”, complementa a docente.

O envolvimento com a pesquisa e o uso de tecnologias na educação tiveram início com uma bolsa de iniciação científica na Udesc, quando, sob orientação da professora Ademilde Sartori, estudou o ensino a distância – área em que chegou a trabalhar por algum tempo em uma empresa privada. Em 2002, formou-se em Pedagogia e, no ano seguinte, graduou-se em Psicologia e começou o mestrado em Educação na UFSC, com o objetivo de investigar os processos colaborativos mediados pelo uso da tecnologia. Na sequência, deu início ao doutorado, no mesmo programa de pós-graduação, e às pesquisas com jogos eletrônicos, analisando suas questões éticas e morais, enquanto também dava aulas como professora substituta em três instituições de Blumenau.

Em 2010, ingressou como professora na UFSC e, desde então, tem se dedicado a projetos de extensão e pesquisa diretamente relacionados às suas duas áreas de formação. As atividades se focam no uso de tecnologias digitais na educação básica com o propósito de melhorar as condições para aprendizagem pelo aprimoramento das funções cognitivas. Entre 2018 e 2019, realizou pós-doutorado na Universidade de Aveiro, em Portugal, mesmo período em que iniciou sua atuação como professora colaboradora do Instituto Politécnico de Santarém, também em Portugal.

Escola do Cérebro e jogos cognitivos

Tela da plataforma Escola do Cérebro, que reúne diversos jogos cognitivos

Entre seus trabalhos de maior destaque, está a Escola do Cérebro, uma plataforma gratuita que integra jogos cognitivos a uma base de dados, visando ao exercício das habilidades cognitivas de forma lúdica e com possibilidade de acompanhamento e orientação sobre o desempenho e as características dos jogadores. O software oferece suporte ao desenvolvimento de atividades nos contextos escolar e doméstico e teve seu registro aprovado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

“A plataforma atualmente está sem atualização, porque a gente está sem recurso para atualizar, mas a gente produziu muitos trabalhos em torno disso, até fiz a conta para um edital que estou mandando. Só em artigos de revistas, foram mais de 20 trabalhos; teve seis dissertações que orientei que olharam para as contribuições disso que foi desenvolvido; alunos que analisaram o uso com crianças com necessidades especiais, em atendimento especializado, para aprendizagem de matemática, para a questão da interação social e que olharam a velocidade de processamento cognitivo”, explica Daniela.

Os estudos da Escola de Cérebro, assim como outros conduzidos pelo grupo de Daniela, são realizados junto a escolas públicas e ONGs. Foto: arquivo pessoal

Os resultados alcançados e publicados acerca do uso da Escola do Cérebro no contexto escolar indicam uma série de benefícios, tais como: melhor desempenho, rapidez e persistência na resolução de problemas, tanto relacionados aos desafios dos jogos como nas atividades escolares; maior controle emocional; aprimoramento de habilidades sociais; aumento da motivação e do comprometimento; aumento no tempo e na qualidade da capacidade de atenção; e manifestação de um repertório maior de comportamentos pró-sociais, como prestação de auxílio a colegas com dificuldades e comportamentos mais colaborativos durante os jogos.

Os projetos de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico foram desenvolvidos vinculados ao LabLudens, laboratório que funciona junto ao Colégio de Aplicação da UFSC e se configura como uma cognoteca – um espaço que reúne um conjunto de jogos e atividades, analógicas e digitais, voltadas ao desenvolvimento cognitivo. Além disso, uma série de atividades de pesquisa e de extensão, incluindo palestras e formações de professores, foram desenvolvidas no Colégio de Aplicação, em escolas municipais e ONGs que atendem crianças em situação de risco.

Trabalhos sobre jogos cognitivos integram projetos de pesquisa e extensão. Foto: arquivo pessoal

Atualmente o grupo de Daniela se dedica a um novo jogo, o Sensidex. Um protótipo da versão em tabuleiro já está pronto, e a versão digital está em processo de desenvolvimento, com apoio de voluntários que fazem parte do Edumídia. O objetivo é trabalhar as competências emocionais das crianças, mais especificamente o controle inibitório, uma habilidade cognitiva relacionada ao controle de nossas emoções e à adaptação de nosso comportamento às diversas situações cotidianas.

“É um jogo que tem uma narrativa de extraterrestres que vêm numa missão intergaláctica, porque o planeta deles está ficando cinza, e eles vêm buscar as cores das emoções e aprender um pouco sobre as emoções com os humanos. Aí as crianças vão tendo vários desafios, minigames, que passam pelo reconhecimento das emoções básicas, de quais emoções são mais adaptadas àquelas circunstâncias, de como se comportar em relação às emoções dentro de algumas situações. Tudo muito lúdico, com os personagens, que são os etezinhos, enfim, eles são bem bonitinho”, conta Daniela. Confira a abertura da história e os personagens no vídeo abaixo:

Prêmio Mulheres na Ciência

O Prêmio Mulheres na Ciência foi criado pela Propesq com o propósito de estimular, valorizar e dar visibilidade às pesquisadoras da UFSC. Também visa inspirar a comunidade científica interna e externa nas diferentes áreas do conhecimento e contribuir para diminuir a assimetria de gênero na ciência. Confira a lista com todas as premiadas.

 

 

Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC

 

Fonte: Notícias UFSC

Tags: Mulheres na Ciência 2021