UFSC lança ações para equidade e debate assimetrias de gênero na ciência
O dia internacional das mulheres e meninas nas ciências foi marcado, na Universidade Federal de Santa Catarina, pela divulgação de três ações institucionais que buscam refletir sobre as distorções de gênero nas ciências e na instituição. Um curso de seis semanas para estudantes de graduação, uma comissão para a equidade e uma premiação para pesquisadoras mulheres foram apresentadas no evento transmitido ao vivo pela TV UFSC.
O evento também contou com um momento de diálogo entre pesquisadores e pesquisadoras. As professoras Maique Weber Biavatti, da Pró-reitoria de Pesquisa; Alacoque Lorenzini Erdmann, pesquisadora em produtividade 1ª/Senior/CNPq; Debora Menezes, do canal Mulheres na Ciência, Olga Regina Zigalli Garcia e Miriam Grossi, do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades, representaram a UFSC. O presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, e a Gerente de Ciência e Pesquisa, Deborah Bernett, representaram a instituição. Bárbara Segal Ramos e Mário Steindel falaram em nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O cerimonial foi conduzido pela professora Francis Solange Vieira Tourinho, da Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC.
O curso Ciência, Gênero e Diversidades, iniciativa do Programa Institucional de Apoio Pedagógico aos Estudantes (Piape), foi planejado para ampliar os espaços de debate sobre o tema entre estudantes de graduação. A ação foi apresentada pela professora Olga, que lembrou que o plano de ensino prevê seis módulos, com temáticas que contemplam desde as interseccionalidades, até violência de gênero. Os encontros remotos semanais terão duração de uma hora e meia e atividades virtuais síncronas e assíncronas, iniciando em março.
A professora Alacoque Lorenzini Erdmann foi responsável por apresentar a iniciativa da UFSC em formar uma comissão para a equidade, formalizada em portaria da Saad, com representação de mulheres de diferentes setores, cargos e campi. “A comissão irá debater políticas sobre aspectos que promovam a diversidade, em especial a valorização e o respeito para que as mulheres possam construir com o seu melhor potencial que a sociedade tanto espera”, sintetizou. “Essa comissão será como foi pensada o curso: com diversidade étnica, de gênero. Se nós queremos trazer a política de equidade, precisamos iniciar desde a comissão”, reforçou a professora Francis. A equipe funcionará como um grupo de trabalho.
Outra ação lançada pela UFSC foi a premiação voltada para cientistas mulheres, com regulamento para os mais diversos níveis da carreira: das iniciantes às seniores. Além da diplomação, as premiadas terão suas pesquisas divulgadas em vídeos a serem produzidos para a série Traduzindo Ciência. Elas ainda irão integrar a galeria dos destaques da Propesq. A professora Maique referenciou uma série de mulheres da UFSC premiadas em 2020, em iniciativas diversas, mas destacou que a universidade também irá buscar reparar as assimetrias. As inscrições começarão no dia 8 de março, dia internacional da mulher.
Efeito tesoura, assimetrias e indicadores
Para Maique, uma das lideranças que alavancou essa discussão na UFSC, as assimetrias de gênero são culturalmente visíveis e por isso identificadas também na universidade. “Nas áreas de ciências exatas e engenharias isso é ainda maior”, destacou. Ela também tratou do chamado efeito tesoura, metáfora que indica a dificuldade das mulheres em chegarem ao topo da carreira científica. “A mulher perde espaço porque foi inserida na ciência, mas não deixou de fazer tudo o que ela fazia antes. Toda a função de cuidado, com raras exceções, ainda é das mulheres, o que gera sobrecarga em toda a carreira científica”, resume.
A professora Débora Peres Menezes, que apresentou o Canal Mulheres na Ciência, lembrou que a diversidade de gênero também contribui com a lucratividade e promove uma ciência de mais qualidade. Ela reiterou o problema do efeito tesoura e também trouxe à tona o efeito Matilda, em que mulheres são invisibilizadas pelos seus pares, a exemplo do que ocorre no filme Estrelas além do Tempo.
A professora Miriam Grossi reforçou a importância de se olhar para os marcadores sociais de diferença e lembrou que, na UFSC, há poucas mulheres negras, indígenas e trans na docência. Com relação ao financiamento científico, afirmou que existe diferença nos pareceres a projetos submetidos por homens e por mulheres e disse que os homens tendem a se afastar dos lugares de poder quando não há recursos financeiros disponíveis. Ela também considera a maternidade uma questão central a ser debatida. “Queria lembrar para as colegas mais jovens que só tem dez anos as licenças maternidades para as bolsas Capes e CNPq”, disse.
O presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, apresentou dados ilustrativos sobre a temática mulheres na ciência. Em 2020, por exemplo, entre os proponentes de projetos de pesquisa na fundação, 60% eram homens. Já entre bolsistas de mestrado e doutorado, o panorama se inverte. “Não podemos acreditar que somente num mundo de homens teremos avanços. É extremamente necessário termos equipes com pluralidade de gênero”, disse. Segundo ele, a instituição já está refletindo sobre essas questões e deverá ter um prêmio de pesquisa com categoria específica para mulheres. Deborah Bernett, gerente de Ciência e Pesquisa, afirmou que a Fapesc já está fazendo parte desse movimento de mudança, com “clareza e tranquilidade”.
Representando a SBPC, os professores Bárbara Segal Ramos e Mario Steindel falaram sobre o Prêmio Carolina Bori e sobre a campanha das meninas e mulheres nas ciências lançadas no Instagram da SPBC-SC. Steindel parabenizou a iniciativa da UFSC. “Iniciativa belíssima, que já vem atrasada. Nós precisamos corrigir essas assimetrias de gênero dentro do campo da ciência”.
Fonte: Notícias UFSC